de 2011
  

Sobreviventes no Morro do Bumba relatam experiência trágica

O Fantástico reencontrou os principais personagens da tragédia do Morro do Bumba.

O Fantástico reencontrou os principais personagens desta reportagem que você acabou de ver.

O que aconteceu com seu Tião? O homem que foi soterrado no primeiro deslizamento de terra no Morro do Bumba?

Quem são os homens que acionaram os bombeiros pelo rádio amador quando aconteceu a maior tragédia?

Como está Queliana, a mulher que soube pelo telefone que a casa tinha sido destruída?

E o homem resgatado com vida, onde está?

A primeira vez em que a equipe do fantástico esteve no Morro do Bumba, em Niterói, foi na quarta-feira à tarde para acompanhar o resgate de seu Tião.

Bombeiros pedem silêncio.

"Ô, Tião..."

A casa dele desabou na madrugada de terça-feira.

“Deu aquele estrondo forte. Desceu correndo eu, minha mãe e meu filho. Eu falei: ‘corre papai, corre papai’. Quando olhei correndo, olhando para trás, veio o sobrado em cima dele. Quando olhei, estava caindo em cima dele”, contou a filha de seu Tião.

Seu Tião ainda está desaparecido. A mulher, a filha e o neto que viviam com ele estão na casa de parentes.

Nas imagens feitas pela nossa equipe antes do deslizamento, a família identifica amigos e parentes.

“As pessoas que nos ajudaram foram as vítimas”.

“O de amarelo é o Zé, né? Ele foi encontrado ferido e a esposa dele tomava conta de crianças. A casa dele era uma creche. E falaram que nessa creche tinha oito crianças. Desabou também”.

“O Felipe perdeu a esposa dele. Achou morta”.

“Esse primeiro está vivo. O de azul”.

“Essas casas aqui caíram todas. Efeito dominó”.

“Eu queria sair de lá sem nada, mas com meu pai. A gente começa tudo de novo. Quando você tem família, você tem forças. Mas quando você perde alguém da sua família, você não sabe nem como começar”.

- Como vai ser recomeçar a vida?

“Vai ser muito triste, né? Sem meu pai..”, disse a filha de Tião.

Queliana morava no pé do Morro do Bumba.

Os bombeiros localizaram os documentos dela numa casa soterrada.

- Queli, tem alguém aqui na sua casa?

“Não, não tem ninguém na minha casa não”, disse a operadora de caixa Queliana Botelho da Silva.

A operadora de caixa abandonou a casa quando ouviu o primeiro estrondo.

“Barulho de árvore, casa caindo, devastando tudo. Parecia um tsunami. Corremos para frente, vai descer também de onde estávamos. A gente pegou, correu, quando a gente chegou na frente da casa, já estava tudo tomado”.

“A gente se arranhou. Me machuquei aqui”.

“Cheguei lá em baixo e falei: ‘minha mãe, minha mãe morreu com meu irmão’”.

“Quando eu encontrei minha mãe, foi tudo. Minha mãe com meu irmão. E minha mãe tem problema de coração e tudo. Ela estava acabada, arrasada, toda suja, rasgada. A roupa suja de sangue. Só em ver meu irmão e minha filha, todo mundo conseguiu sair com vida dali, para mim, a gente nasceu de novo”.

A família toda está na casa do irmão de Queliana.

“A gente vai começar do zero. Muito mais fortificado com amor de um e outro. Mas a uniao, o amor de um para o outro mudou muita coisa. porque a gente viu o pior de perto. Não tem fator que explica isso. Vimos a morte de perto e conseguimos escapar. Agora estamos muito mais unificado, mais sentimento de carinho um pelo outro. Não que não tivesse. Mas estamos mais fortificados porque vimos o pior de perto”.

Foi de uma antena que saiu o primeiro alerta. Prefixo PY1QP.

“Eu estava trabalhando, estava no computador quando escutei um ruído abafado, tipo você jogando fogo num depósito com álcool, um ruído abafado e a minha mulher gritou. Ela estava lá no muro, que tinha havido um acidente. Então eu imediatamente saí correndo e fui lá no final”.

ÁUDIO RADIO AMADOR
- Eu estou aqui próximo, está precisando de alguma coisa? Eu estou tentando falar com o Aníbal, estou com o Binho na linha também, a gente não sabe se é ali perto da casa do Aníbal, eu estou aqui do lado, aqui. Estou bem próximo ao local.

A casa de seu Aníbal fica ao lado do Morro do Bumba.

“Quando eu cheguei nesse ponto, eu sabia das casas que existiam aqui. Eentão voltei imediatamente, entrei em contato com Gauber, que disparou todos os contatos. Vinte minutos tinha viatura dos bombeiros aqui”, disse o contador Aníbal Arijon.

Graças ao sinal dado por seu Aníbal, as equipes de socorro chegaram.

Seu Edmo, 65 anos, está vivendo na casa da patroa da mulher dele. As pernas ainda estão machucadas, mas a memória está intacta.

“Aquela noite foi a noite mais aterrorizante do mundo”.

“O cara ficou de cabeça para baixo. Me pegou, abriu e consegui tirar minhas pernas de onde estava. Puxei essa primeiro. Estou aqui firme”.

“Se ninguém me tira, eu morro lá, porque já tinha gás, gás estourou. Fiquei com a boca seca. Disse: ‘agora estou morto, mas acredito no Senhor’.”

O comércio que ele tinha foi destruído e a família agora vive só com o salário da mulher e a pensão do INSS.

Ele diz que é pouco, mas o mais importante ele ainda tem: a vida.

“Eu nasci naquele dia depois que vocês me tiraram. Agora comecei. Hoje não tenho nada, mas tenho agora minha vida, filhas e esposa. E daqui para frente vou viver nova vida. Nasci de novo”, conta o comerciante Edmo Lopes.

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Pedro Filho