de 2011
  

Nove em cada 10 jovens já sofreram agressão do parceiro

Uma radiografia completa do comportamento dos adolescentes brasileiros quando estão namorando. O que mais impressiona é que 9 em cada 10 jovens já praticaram ou sofreram algum tipo de violência.



A violência pode ir do xingamento até a agressão física.

No começo, mil maravilhas, apelidos carinhosos, atenção total.

"Esperamos tanta coisa", diz Francisco da Silva, 16 anos.

Mas a paixão pode se transformar, abrindo espaço para agressões.

"É complicado, porque na nossa idade os hormônios estão à flor da pele. Nervosismo é o que mais temos", diz Marina dos Santos, 18 anos.

A violência entre jovens casais virou tema de uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em dez capitais brasileiras, com 3,2 mil adolescentes entre 15 e 19 anos. O Fantástico teve acesso à integra dessa pesquisa, que revela números impressionantes: nove em cada dez jovens namorados já sofreram ou praticaram algum tipo de violência, que vai do xingamento à agressão física, passando pelo sexo forçado e a humilhação pública, via internet.

Em Pernambuco, aos 13 anos de idade, uma menina foi espancada pelo namorado, seis anos mais velho.

"Ele ficava dando murro em mim, tapa. Eu pedia a ele para parar, mas ele não parava", lembra.

"Percebemos velhas e novas formas de violência, que vêm no bojo de uso de novas tecnologias que os adolescentes dominam muito bem", revela a pesquisadora da Fiocruz Kathie Njaine, pesquisadora.

No interior de São Paulo, uma jovem tinha 17 anos quando experimentou o terror ao ver fotos nuas dela, tiradas pelo ex-namorado, circulando na internet. "Preconceito, por se tratar de uma cidade pequena, fiquei sem conseguir arrumar emprego um bom tempo. Fica as marcas até hoje", diz ela.

O Fantástico reuniu um grupo de adolescentes de São Paulo, para um bate-papo.

"Agressão é tudo contrário ao amor. Você tem que ter respeito pelo companheiro", disse Marina.

"Agressão é a pessoa partir para cima da namorada, dar um tapa nela", definiu Francisco.

A violência verbal – mostra a pesquisa – é a mais comum.

"As pessoas se xingam muito em brigas. Chamam cada nome de baixo calão", revelou Francisco.

"Um ou outro quer se impor e não quer falar que está errado", disse Jefferson Ferreira, 18 anos.

"É difícil um adolescente ter limite. Então, fala e não sabe quando parar", completou Marina.

A violência não escolhe classe social nem sexo. O estudo da Fiocruz revela um comportamento que chamou bastante a atenção dos pesquisadores: as meninas são tão ou mais agressivas que os meninos. Elas provocam ciúmes, xingam, humilham os garotos.

"Percebemos muitas meninas praticando violência física, através de tapas, empurrões. Os garotos disseram que se sentem muito incomodados ao serem expostos e, às vezes, depreciados pelas meninas", diz Kathie Njaine.

Uma adolescente de temperamento forte perde a cabeça fácil. "Já dei um tapa na cara de um porque eu estava muito nervosa. A partir daquele tapa, a gente terminou. Hoje, penso que a atitude não foi certa", diz.

A pesquisa mostra ainda que 41% dos jovens já usaram álcool, maconha ou cocaína. A primeira relação sexual aconteceu, em média, aos 14 anos de idade, e 43% admitiram não usar camisinha sempre. A pouca idade e a falta de experiência se refletem na qualidade dos relacionamentos.

"Para a pessoa poder se defender, ela agride, como se a melhor defesa fosse o ataque. Ela pensa assim e, infelizmente, esses índices estão explodindo hoje", avalia o psiquiatra Maurício Souza Lima, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em São Paulo, cansada de brigar um fim de semana sim, outro não, uma adolescente terminou o namoro. "Começava em uma discussãozinha, com um querendo falar mais alto que o outro, um querendo ter razão. Ele me xingava e gritava comigo na rua", lembra.

O namorado procurou ajuda de um psicólogo. O jovem casal conversou muito e hoje eles estão juntos de novo. Agora, sem violência.

"Faz um bom tempo que a gente não briga, graças a Deus", conta a adolescente, emocionada. "Eu gosto muito dele, e é legal saber que ele mudou por mim. Isso inspira muito, dá vontade de ficar com a pessoa, de amar a pessoa".

"Temos que fazer alguma coisa e tentar reverter. E a única forma é o dialogo. A família precisa estar envolvida nesse processo", aconselha Maurício Souza Lima.

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Pedro Filho